Uma história ilustrada composta por 142 desenhos.
Twinclowns, um palhaço que se divide em dois, e sua companheira Girafa moram em um circo com amigos e outros não tão amigos assim. Logo que decidem ter um filho, o misterioso Sr. Noite os ajuda a formar uma família e a alegria invade suas vidas. Mas isso causa a ira do perverso Mágico, que de tudo fará para que ninguém seja mais feliz do que ele no circo.
Segundo Andy Warhol, um artista é alguém que produz coisas que ninguém precisa ter, mas que ele, por alguma razão, pensa que seria uma boa ideia oferecer às pessoas.
Obrigado pela presença.
André Arantes
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Número de desenhos: 142
Técnicas: Lápis de cor, nanquim, hidrocor sobre papel e photoshop
Dimensão dos originais: média de 20x30cm
Ano: 2004 a 2010
À venda: os originais e impressões em tamanhos variados
Não recomendo para menores de 14 anos.
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IMPORTANTE: Clique na imagem para aumentá-la.
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Ele pediu a mão dela nas montanhas
E os dois se casaram no litoral
A lua-de-mel foi em um resort
Vista panorâmica, café na cama - nada mal.
Pouco tempo depois tiveram o que mais desejavam.
Um bebê na família! Todos os dias festejavam.
Mas quando sua cabeça virou duas, o desespero foi geral
Tiraram algumas fotos e o abandonaram em um matagal.
Dois pés, dois braços.
Podia correr, podia nadar.
Mas normal? Nem pensar.
Essa coisa estranha, esse ser incomum,
nada mais era do que dois infelizes em um.
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Suspenderam Randal da escola porque ele chamou Plínio de 'homossexual passivo' assim que viu seu caderno desenhado com margaridas. Chamar o colega de 'idiota', 'burro', 'aleijado', 'retardado' ou 'filho da mãe' até era perdoado, mas 'homossexual passivo' foi demais – ele mereceu a punição.
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"É natural que o mundo fique ambíguo quando se tem novos olhos, TC. As coisas são percebidas de acordo com a maneira que nos ensinaram a vê-las. Desprenda-se de tudo isso e passeie por outras possibilidades. Admire a forma, analise o todo, note os detalhes.
Olhe para a Girafa. O que você vê?"
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Cinema ou música nem pensar. Podia ter apenas uma refeição por dia e era proibida de sorrir para não criar rugas no rosto. Ela existia para servir à mãe, segunda colocada no Miss Universo muitos anos antes. Naquela madrugada, antes de ir para cama, se esqueceu de dizer a ela que era mais bonita que a primeira colocada e levou um beliscão daqueles. A mulher ia dar o segundo quando tocaram a campainha. A garotinha abriu a porta e viu um desconhecido de dentes amarelos. Um sorriso que o Mágico deu foi o bastante para convencê-la a ir embora com ele.
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Sua cartola lhe dava quantos coelhos, cartas e barras de ouro ele quisesse. Mas crianças, que era o que ele mais queria, nunca saíam lá de dentro. Talvez fosse falta de concentração ou sorte... Um dia pensou em se livrar daquele objeto e tirar de vez essa história de filho da cabeça, mas foi o próprio chapéu que o ajudou a dar seu primeiro passo rumo à paternidade.
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O Mágico acordou as crianças bem cedo para que conhecessem seu novo irmão. Plínio tinha sido vítima de mais um adulto que toma uma criança de outro e achou estranho ter sido chamado de filho por um homem que não era seu pai - mas como gostava de novidades, resolveu aceitar ser adotado por ele. Só não gostou muito de ter seu cabelo raspado e sua cabeça enjaulada.
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Logo depois que seu filho foi raptado na aula de piano
a vida deles começou a mudar.
Os amigos voltaram a ligar,
ela deixou o cigarro e ele, o bilhar
e a alegria aos poucos tomava conta do lar
afinal não mais teriam que gastar suas economias em terapia familiar
nem se preocupar com operação de troca de sexo
que era o que Plínio mais queria ganhar.
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Esse era o mais jovem raptado pelo Mágico. Ele era o mais novo também na vila onde morava, onde amarravam criancinhas levadas pelo braço e as penduravam nos telhados. Um dia uma professora o puniu fazendo com que passasse as férias inteiras pendurado na sala do diretor. Desde então ele só fica de costas para os outros, e tem que dar as mãos a alguém ou colocá-las na cintura se não quiser que arrastem no chão.
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As crianças até aceitavam ter uma professora fascista, racista e feminista. Nunca reclamavam da sua risada nervosa, dos pêlos em seus ouvidos, nem de seu discurso sobre boas maneiras. Mas quando ela anunciou sua decisão de substituir as aulas de Música por palestras sobre Organização Social e Política, o caçula do Mágico obedeceu seu instinto e bravamente voou no pescoço dela. Sob ordens do diretor, penduraram-no no teto.
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Observando o Mágico e sua família, TC concluiu que o circo tinha que mudar muito antes que ele pensasse em ter um filho também. A competição entre os elefantes, a vaidade dos acrobatas e a ira dos leões o impediam de achar que valia a pena todo o sacrifício e a dedicação que se deve ter ao criar uma criança. Mas que ele sentia muita vontade de cuidar de alguém, ele sentia.
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Na manhã seguinte TC notou que haviam deixado uma caixa de madeira do tamanho de uma de fósforos na sua janela. Como ela (ou alguma coisa dentro dela) não parava de se mover de um lado para o outro, ele logo esperou que uma mãe arrependida tivesse deixado seu recém-nascido ali. Assim ele realizaria seu desejo de ter a quem cuidar e não se culparia se aquele ser um dia se tornasse um adulto vazio, uma vez que ele não pediu para nada daquilo acontecer.
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TC estava certo - havia um ser vivo dentro da caixa - e ele não tinha dúvidas que agora era seu, apesar de não saber do que exatamente se tratava. Porém, como tinha dificuldade em lidar com o feio, ele pensou seriamente em passar o bebê adiante e continuar aceitando só o que era bonito em sua vida. Mas o corpinho mal formado da criatura o comoveu, o que o fez voltar atrás e acolher o recém-chegado.
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Twinclowns, Girafa, o bebê e o gato agora eram uma família e teriam que se adaptar à nova rotina sem se perderem em leis e regras criadas para complicar o que é para ser simples.
Crepúsculo não se desgrudava da barriga da Girafa, morto de curiosidade para saber como era viver lá dentro.
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